quinta-feira, 13 de março de 2014

Verdade do Boêmio



No auge da tua reflexão, você compreende sem precisar aceitar.

Ele é assim mesmo, não tente pensar muito. Se contenta com um gole de cerveja, um tamborim e uma roda de amigos. Isso lhe basta para se achar feliz. Um pobre coitado... Espreme angústia até sair felicidade. Só precisa disso, este infeliz, pé rapado. Apenas exige que seu gole de cerveja venha de uma canela russa, que o tamborim cante a poesia de um Samba vivo e libertador, e que a roda de amigos exale alegria, choro e sorriso. Um vagabundo, um maldito Boêmio beberrão. Compreenda, ele é isso mesmo.

Ele não te traiu. Mesmo rabiscando o salão do boteco do Zezinho de tanto sambar com as partideiras, ele é fiel. Mesmo beijando Jurema e deitando-se com Damiana, ele é fiel. A canalhice é parte viva do que ele é por necessidade de ser feliz. O beijo de Jurema junto à quentura de Damiana, não chegam perto do mais distante pensamento em você.

O estandarte dele é você. Compreenda sem precisar aceitar que ele é isso por você. É o que o mantém vivo. Um pobre coitado que se limita aos sentimentos. Um malandro mais bobo que um palhaço, um mentiroso pior que criança, uma mentira mais verdadeira que a própria verdade. Pelo menos isso... Ele é o que é. A verdade é percebida no fundo de seu copo e confirmada no samba de seu pé.

Um infeliz mais feliz que pinto no lixo.

(Marcos Ubaldino)

Nenhum comentário:

Postar um comentário