quinta-feira, 6 de março de 2014

Rosa dos Ventos


No sul, deitada na cama e ouvindo Chico, ela admira angustiada o retrato dele. Ao norte, no sofá, ao som de Vinícius, ele venera o dela com profunda saudade. Sobram-se leste e oeste. Nordeste e sudeste.

A esperança é o centro, mas neste, existe um muro de orgulho burro, infantilidade, falsa independência, força frágil e felicidade aparente. Tudo de desnecessário que se usa para justificar distância. Como se fosse uma capa dura e pesada de um livro romântico, de páginas doces e leves. A distância prevalece enquanto o tempo passa.

Ela não sabe que, adorar a imagem dele, todas as noites, com lembranças saudosas e imaginações futuras, chorando de alegria e tristeza, não o trará de volta. Ele não sabe que, agarrar-se ao retrato dela, imaginando que poderia ser diferente, esperançoso que, cedo ou tarde, receberá uma ligação dela, não a trará de volta.

Destrua o muro do centro usando a raiva da distância. Crie uma ponte. Dois pontos, sul e norte, ela e ele. Vá direto, com impulso, sem olhar para os lados. Encontre ela. Tire novos retratos, venere os olhos dela, admire o abraço dele, sinta o cheiro, o gosto de vocês. Realize a imaginação e assassine a saudade. Que a força da saudade se transforme em calor na união dos corpos.

Quando a distância voltar, reconstruindo o muro central, fique triste, ouça Djavan e chore novamente, deitado na cama ou no sofá. Venere os novos retratos e relembre dos últimos momentos bons.

Aceite o ciclo, aceite o sofrimento. Ou então, construa uma ponte pelo nordeste.

(Marcos Ubaldino)

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